*Por Débora Morales
Evidências científicas atestam que as mudanças climáticas são uma realidade e um dos problemas mais desafiadores já enfrentados, pois afetam todos os sistemas do mundo em qualquer escala. As áreas urbanas não são exceção, e essas mudanças têm impacto significativo no bem-estar das pessoas.
Inundações urbanas são um dos desastres naturais mais frequentes que afetam muitas cidades em todo o mundo. Os fortes eventos de precipitação confirmam que as inundações pluviais podem causar danos catastróficos, levando ao aumento das perdas de vidas e propriedades a cada ano.
As chuvas intensas podem ter um impacto significativo e altamente dependente do bom funcionamento das infraestruturas críticas (ICs) das cidades, especialmente nas áreas mais vulneráveis. Em geral, ICs são aqueles sistemas e empresas que fornecem serviços essenciais que sustentam e mantêm funções vitais, relacionadas com o bem-estar da sociedade, como energia, água, alimento, gás, comunicação, ordem e segurança. Alagamentos, deslizamentos de terra e interrupções do fornecimento desses serviços são alguns dos problemas que surgem durante tempestades.
Além disso, as cidades estão aprendendo com os episódios recentes e há uma necessidade geral de explorar novas técnicas e diretrizes que possam ajudar a reduzir a vulnerabilidade e aumentar a resiliência, capacidade adaptativa e sustentabilidade dos ambientes urbanos, considerando o futuro já previsto e desafios associados à mudança climática.
Nesse sentido, a importância de cidades resilientes se torna evidente. Cidades resilientes são aquelas que possuem capacidade de se preparar, responder e se recuperar rapidamente diante de desafios climáticos. Isso inclui a implementação de medidas preventivas, como sistemas de drenagem eficientes, infraestrutura sólida e tecnologias de monitoramento climático.
Estudos abordam o quão resilientes as cidades são contra as variabilidades climáticas e como podem ser melhoradas. Essas questões podem ser avaliadas considerando as ICs como agentes-chave no processo de construção da resiliência.
É preciso estabelecer claramente a área de análise, para tanto, pode ser útil a utilização de ferramentas baseadas na tecnologia de sistemas de informação geográfica, monitoramento da atividade de deslizamento em tempo real. Além disso, o ambiente circundante deve ser detalhado. Nesse contexto, devem ser descritas as características geográficas mais relevantes da área de influência, dados como altitude, ambiente costeiro e/ou fluvial, encostas, pois essas características estão fortemente ligadas a impactos específicos de cadeias climáticas.
Em seguida devem ser identificadas as ICs que prestam serviços críticos para a cidade, incluindo os que fornecem energia, água, comunicação, saúde, transporte dentro dos limites da cidade juntamente com aqueles que estão fora da cidade, mas que prestam serviços críticos. Os desafios nessa área são imensos, porém a identificação do problema e a busca de uma verdadeira solução para a gestão dos danos e destruição causados pelas inundações é crucial.
As seguintes dimensões servem de base nas estruturas de resiliência: A preparação refere-se à capacidade da cidade de antecipar e adaptar seus serviços e funções às necessidades futuras. Compreende habilidades de IC urbana para gerenciar o inesperado em termos de conhecimento, procedimentos e recursos técnicos para melhorar sua flexibilidade e capacidade adaptativa.
A liderança refere-se ao compromisso da cidade com o processo de construção de resiliência e sua capacidade de promover e consolidar a cultura, atitude e valores nele baseados. Além disso, considera a capacidade da cidade de desenvolver estratégias envolvendo todas as partes interessadas relevantes na cidade.
A técnica refere-se à força e capacidade de adaptação das infraestruturas da cidade ao perigo da variabilidade climática e seus impactos em termos de resistência, absorção e recuperação de um evento desencadeante, garantindo o serviço. Nesse sentido, as ICs devem realizar uma gestão de risco eficaz e estabelecer medidas e recursos de redundância para reduzir vulnerabilidades, bem como enfrentar e solucionar crises, esperadas e inesperadas. Isso inclui ter ativos físicos, pessoal, habilidades, tecnologia, suprimentos e garantir informações confiáveis e de boa qualidade. Por fim, a cooperação refere-se à capacidade dos agentes da cidade trabalharem juntos, estabelecerem e alcançarem propósitos comuns. A cooperação deve ser desenvolvida em todos os níveis da cidade, envolvendo agentes das esferas pública, privada e social.
Nessa dimensão, encontram-se políticas para promover a colaboração efetiva e acordos com o objetivo de aumentar a resiliência da cidade. Além disso, devem ser realizadas ações que promovam alianças estratégicas com outras cidades e levem à criação de redes de cidades resilientes.
*Débora Morales é mestra em Engenharia de Produção (UFPR) e atua como Estatística no Instituto das Cidades Inteligentes (ICI)
Publicado originalmente no portal da Revista Nacional da Tecnologia da Informação (RNTI)